quinta-feira, 28 de maio de 2015

Brasil - E a educação que não melhora, de quem é a culpa?

                     Brasil: E a educação que não melhora...



Falar de educação no Brasil parece um assunto mágico. Porém, um diagnóstico importante é a existência de uma aparente unanimidade sobre o assunto da educação. Está na boca de todos que a educação vem em primeiro lugar.
Todos já ouviram e repetiram as seguintes frases: "- Temos que investir em educação; - A educação precisa ser melhorada; - Educação é tudo em um país". Se partirmos desta realidade, poderíamos dizer que temos então um ambiente propositivo envolto em um engajamento coletivo para a melhoria da educação, não é verdade? Na realidade a resposta é um profundo NÃO. Esse discurso se construiu sobre profundas contradições da vida prática, que pretendo agora explorar. Falar é muito diferente de acreditar e fazer.
Se por um lado, as pessoas falam cotidianamente sobre a importância de educar, que a educação começa em casa e a escola que forma o cidadão. Por outro, vemos contradições que precisam ser discutidas. Assim, proponho expor contradições e construir alguns pontos de reflexão sobre a realidade da educação do nosso país.
- Se todos defendem a melhoria da educação, como explicar que no momento em que um filho, sobrinho, neto ou amigo decide ser professor, a reação da maioria é: “- Tem certeza? - Não seria melhor um trabalho de verdade? – Você é tão inteligente, não prefere outra coisa?”. Se já de saída temos esse tipo de recepção quando alguém próximo opta pela profissão de educador, o que esperar dos políticos que decidem sobre o futuro da educação?

- Como defender a educação pública, se os próprios educadores das escolas públicas matriculam seus próprios filhos em escolas privadas? Ou seja, nem mesmo os nossos educadores acreditam no trabalho dos outros colegas? Sabemos que essa escolha é estratégica para o futuro da criança, mas essa contradição deslegitima o trabalho dos colegas da educação pública. Retirar da educação pública os alunos que possuem melhores condições financeiras e educacionais é segregar os pobres das classes sociais mais abastadas.

- Como defender a educação pública, se continuarmos comparando as escolas publicas com as escolas privadas? Desculpem, mas as realidades são COMPLETAMENTE diferentes. No caso das escolas particulares, os professores podem sim cobrar e exigir um alto nível de apropriação dos conteúdos e consequentemente cobrar o mesmo nas provas. Podem cobrar esse alto nível, pois seus alunos, em sua maioria, possuem recursos e condições mínimas de vida. Ou seja, o professor de uma escola particular pode cobrar um alto nível de exigência, pois seus alunos, em sua maioria, possuem roupa, passagem, condições mínimas para estudar em casa (tem seu próprio quarto, local para estudo, internet, silêncio e três refeições por dia). Se o aluno tiver dificuldade de acompanhar o ritmo da escola particular, os pais podem optar por contratar uma professora particular. O que sabemos é que essa NÃO é a realidade da escola pública. A realidade da escola pública é que ela se transforma no único espaço de acolhimento de alunos com inúmeras dificuldades, onde o aprendizado é só um dos problemas que o jovem enfrenta. Ou seja, realidades incomparáveis. O que talvez “funcione” nas escolas particulares, com grande chance de não funcionarem nas escolas públicas.   

- Por fim, no Brasil, todos os que querem um futuro melhor, pagam para estudar. Se olharmos para a realidade de que quem tem condições melhores de vida, ele tende a pagar escola particular para os filhos. Essas famílias esperam com isso não precisar pagar o ensino superior. Ou seja, na mentalidade geral de seus pais de classe média média e média alta, pagar escola particular constitui um investimento para que o filho(a) ingresse em uma Universidade Federal sem grandes dificuldades. Já no caso das famílias sem condições de pagar uma escola privada para seus filhos, se os mesmos desejarem ingressar em uma universidade, terão, em sua maioria, que pagar a educação superior. Ou seja, na realidade das classes média baixa e baixa, se o filho quiser fazer faculdade, acabará tendo que trabalhar no contra turno para pagar sua própria formação, já que será mais difícil competir com alunos de educação privada (Por isso existem reservas de vaga e cotas no Brasil).
De maneira bem geral, quando analisamos a realidade da educação do Brasil, vemos que para todas as classes sociais, a educação acaba sendo um produto a ser consumido. Seja pagando escola particular ou educação superior privada, quase todos os jovens que decidem seguir estudando, tiveram ou terão que pagar para ter esse acesso. Essa realidade cria uma mentalidade distorcida da finalidade da educação. Ela tende a retirar da educação algo que é a sua base social e humana, ou seja, a educação é um direito e não um privilégio ou mesmo um produto. Quando interesses econômicos estão envolvidos em questões que são da ordem de direitos mínimos, enfrentamos o nosso maior inimigo. 
Se a educação for entendida como um produto, onde bastaria ter dinheiro para acessar o que ela reserva de melhor, acabamos reforçando a desigualdade do país, ao invés de eliminá-la. No momento em que reforçamos a desigualdade, a nossa tendência é acabar com qualquer possibilidade de melhoria nos nossos índices internacionais. 
No momento em que vemos um Ranking da educação mundial, deixamos de ver os dados econômicos destes países e como a educação é tratada em cada realidade social. Comparar o Brasil com os EUA, por exemplo, olhando apenas para um índice, esquecemos que os EUA fizeram a opção de privatizar a educação superior e o sistema de saúde. Pelas bandas de lá, o Estado não se responsabiliza pela saúde e educação superior dos seus cidadãos. Assim, ou você é uma família que tem condições de fazer uma poupança guardada desde o nascimento do seu filho e pagar um plano de saúde privado ou seu filho não terá direito a fazer faculdade ou ter atendimento médico. Claro que existem bolsas para bons alunos e atletas, mas estas não são suficientes para dar conta da desigualdade social existente nos EUA. Aí, com esse foco, pode parecer que os índices da educação básica por lá é melhor, mas os custos sociais dessas escolhas não aparecem nos índices.
Ou seja, não podemos olhar para a escola ou educação como algo descolado de uma realidade econômica, social e de direitos. Pensar na melhoria da educação pública no Brasil passa pelo resgate da educação como um direito, uma identidade de educação pública para todos e de direito de acesso ao ensino superior, gratuito e de alta qualidade. De uma melhoria de salários, condições de trabalho e alimentação dos alunos, sem falar no passe livre para alunos de escola pública e uma construção coletiva no resgate da beleza contida na profissão de educador. Nossos jovens mais brilhantes, sensíveis e engajados deveriam ser convidados a serem professores e educadores, e isso passa por um resgate da melhoria dos cursos de licenciatura e uma reformulação profunda dos atuais currículos de formação de professores. Sem pensar de forma mais complexa e crítica, ficaremos reproduzindo discursos que não se materializam na nossa prática. Precisamos das pessoas pensando e se engajando de forma militante por uma educação de qualidade. Sem isso, continuaremos repetindo como papagaios: - Mais educação, melhor educação.... que se transforma em um mantra que todos aplaudem e repetem, mas ninguém faz nada pela causa em sua dia-a-dia.