Ser professor genérico significa
ser professor de disciplinas obrigatórias em universidades que não possuem
graduação do curso-disciplina ministrada. Ainda mais quando somos genéricos das
humanidades, aí é ainda mais complicado. É quase como ensinar uma segunda
língua para alunos que nunca são convidados a usá-la fora da sala de aula. O
que explicamos com o uso de teorias e tentamos construir visões complexas e científicas sobre
a realidade, fatalmente professores de outros cursos ou disciplinas rotulam
essas reflexões de "opinião"e tendem a simplificar a realidade, já que são eles os “cientistas”. Já nós, somos apenas.... genéricos.
Ficamos com os horários que os
professores dos próprios programas não querem ficar. Segunda pela manhã e sexta
á noite são as mais comuns, mas não apenas. Nas quartas-feiras á noite, dia de
jogos de futebol na televisão aberta, que fica ainda mais complicado quando algum
time da região vai jogar... então são dias “sagrados” para “deixar para aquelas
disciplinas de fora”, dizem os professores estabelecidos falando aos
professores genéricos.
Como não possuímos nosso próprio
prédio, somos como “arroz de festa”. Estamos em todos os lugares, prédios e
salas dos professores, mas não estamos em nenhum. Acompanhamos e somos vistos como
algo menor, mas como é “disciplina obrigatória”, somos tolerados (Tolerância não
é o mesmo que aceitação). No próximo semestre estaremos em outros cursos, dias
e horários diferentes e assim vivemos errantes... pois quem define para onde
vamos são os cursos solicitantes (seguimos uma lógica de demanda e oferta).
Assim, seguimos escolhidos.... jamais escolhendo.
Como não possuímos nosso próprio
curso; somos genéricos com data limite de convivência com os alunos. Passada a
disciplina, não acompanhamos mais suas trajetórias intelectuais. Somos,
portanto, professores genéricos por tempo limitado. Homeopatias que são
lembradas quando surgem dúvidas sociais ou necessidade de teorias que ajudem a
confirmar suas hipóteses. Temos um período de no máximo um semestre,
aproximadamente 18 doses de aulas para construir reflexões de conhecimentos
estranhos aos conteúdos específicos. Ou seja, demoramos meses para conquistar o
interesse do aluno, para depois abandoná-los no melhor momento intelectual. (Ou não, veja o vídeo)
Somos chamados para todas as
reuniões de departamento, mas não temos voz. Já que os assuntos internos como
currículo, horários e conteúdos específicos estão fora da nossa alçada. Sendo
assim, somos o apoio para necessidades específicas: Palestras, Congressos, Mesas
de Debate e entrevistas, muitas entrevistas. Já que os “professores genéricos
das ciências humanas” ajudam a tornar polêmico o debate, e podem assim,
auxiliar na discussão que se dá por uma exposição simples de ideias. Como essas
ideias apresentadas não vêem acompanhadas de leitura anterior do público,
tendem a cair nas opiniões e nas visões senso-comum (Em breve um post sobre
essa questão). Falamos de ciência e de teorias, mas elas podem ser questionadas
por qualquer aluno ou professor estabelecido, principalmente quando ele se
percebe contrariado. Alguns estabelecidos costumam professar inverdades sociais
no interior de suas aulas, e precisam agora relativizar sua fala publicamente,
esperando nosso aval.
Enfim... a sociologia está, em
alguns espaços de ensino, como genérica. Mas esse post não é um simples mimimi de quem não te curso próprio. Não somos genéricos, estamos genéricos.
Questão de tempo e atitude ... Em breve, cursos surgirão e buscaremos não só sua institucionalização, mas estaremos prontos para transformar os "genéricos" em potenciais transformadores. A universidade carece de mudanças e nós, de oportunidades. Fica o convite para assistir a posição da Filósofa Marilena Chauí sobre a Universidade Operacional: