Lembro quando era criança e minha avó adoçava o Nescau. Na minha casa, eu tinha pouco acesso ao açúcar refinado, era hábito da minha mãe
saborear o sabor natural das coisas. Quando minha avó adoçava meu Nescau, eu
sentia o quanto aquela substância aparentemente realçava o sabor das coisas.
Descobri que o açúcar transformava um simples chá de cidró
em um melado excelente, (Que nos períodos de férias de verão, se transformava em
ótimos picolés, bastando encher as formas de gelo com este melado de chá e colocar
pequenas colheres em cada quadradinho). Sem falar no café frio que eu descobria
em uma pequena garrafa térmica vermelha, que poderia ser transformado em outro
tipo de melado, que de tão saboroso, podia ser tomado de colherinha (e curtir uma tarde de ansiedade louca por causa da cafeína). Logo
depois vieram as balas de menta e os chicletes Ping-Pong. Gastava todos os
centavos que ganhava em doces.
Na minha infância, míseros cinco reais,
compravam: caixa de bombom, refrigerante e salgadinho. E ainda sobravam moedas
para comprar balas e chicletes. Enfim... sou um viciado em açúcar. Um vício tão
forte, que ainda hoje me sinto desconfortável quando não tenho chocolate na
dispensa em casa. Assustador, né? Quantos são como eu?
Muitos dizem que o açúcar é energia e é alimento. Mas
ninguém diz os problemas resultantes do seu uso indiscriminado. Somos uma
geração que consumimos gordura, sal e carboidratos em uma louca abundância, e
claro, açúcar. Levei anos para diminuir o consumo exagerado desta última substância.
E o que vejo hoje? A próxima geração está ainda mais exposta ao consumo abusivo
de tudo o que não é alimento. No meu tempo (nasci em 83), tomar refrigerante,
consumir sorvete e biscoitos era luxo reservado em poucos momentos. Hoje? Bom,
hoje esses artigos são comprados em grande quantidade e considerados
“alimentos” para as crianças.
Elas levam de lanche coisas o que antes eram
considerados sobremesa. Acredito que as crianças tenham atualmente mais acesso a
doces açucarados e industrializados do que acesso a frutas e legumes. Qual o
problema disso? Aparentemente nenhum, já que o argumento dos pais é que “Meu
filho gosta, né?”; “é gostoso e ele merece” ou mesmo “ele chora se não ganha”.
Não quero entrar aqui numa discussão sobre educação infantil, mas precisamos
urgentemente discutir a alimentação de nossa geração, mas principalmente da próxima.
A obesidade infantil é algo tão absurdo que presenciamos o
momento em que os pais dão Coca-Cola na mamadeira das crianças e nem paramos
para pensar no absurdo que isso representa. No passado, temos relatos de pais
que davam cachaça diluída em água na mamadeira dos filhos homens, já que beber
era coisa de macho (Como foi a longa história do jogador Garrincha e sua
absurda iniciação no álcool).
Sem falar nas crianças que fumam as “bitucas” dos cinzeiros
quando os pais saem do recinto, pois é tão lindo fumar de forma elegante na
frente dos filhos, não é verdade? Ou mesmo os filhos que podem beber a espuma da cerveja
dos pais, quando os últimos estão bêbados e sorridentes. Vejam o quanto a diminuição da atividade cerebral ocorre com o consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura, que se aproxima muito do consumidor de cocaína. No mínimo, essa comparação nos faz refletir.
Permitir que crianças antes dos 6 meses de idade comam
biscoitos recheados até dizer chega, tomam suco de néctar aos litros, não é
muito diferente. Sobre esse assunto, indico um dos melhores documentários
produzidos no Brasil sobre alimentação e propaganda para o público infantil,
chamado Muito Além do Peso, segue o documentário abaixo:
Se o açúcar deveria ser considerado uma droga? Sim, sem
dúvida. Vejam os argumentos que utilizamos para os problemas das drogas
ilícitas: Viciam, destroem a nossa saúde, nos levam a morte e acabam com nosso
senso social de existência, a sua utilização em excesso é destruidor do
organismo. Mas ainda assim, os teimosos dirão: Mas tudo que é utilizado em
excesso faz mal. Hum... então me diga o quanto podemos usar de açúcar? Tentem tirar
por apenas uma semana o açúcar refinado da sua alimentação e logo descobrirão que quase
tudo que é industrializado possui açúcar refinado.
Aprendi com minha mãe uma
lição muito importante sobre qualquer substância química: “Você consegue
controlar seu uso quando está bem e feliz. Porém, basta ficar triste ou
deprimido, nas palavras de minha mãe, quando perde o equilíbrio de vida, seu tão falado
controle vai para o espaço e você se afunda comendo ou usando sem nenhum
critério”. Isso é a mais pura verdade. Dito isso, meu vício no açúcar não terá
fim, serei sempre um dependente em recuperação.
Hoje procuro suprir sua falta
com frutas doces e com alimentos açucarados naturalmente (Açaí, damasco, passas
de uva e mel). Mas sei que quando você impõe a próxima geração o consumo
abusivo desta substância, seus filhos, irmãos e neto talvez não tenham a mesma
sorte que eu tive. Sejam eternos viciados que comem açúcar na busca de aliviar
seus problemas, pensem nisso... Ou continue a dar sentido a sua vida pela boca,
terminando com o único templo mais importante que é seu corpo. Sonhando com
cirurgias plásticas para poder sonhar novamente com o corpo idealizado pelo
mundo fictício da moda. E na tristeza, não esqueça, abra a felicidade que é
vendida em lata.....e veja o seu filho bêbado de sono com as explosões de glicose em seu sangue :)