quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Ressaca pós-Copa e eleições - A televisão que vomita polêmicas



Na véspera da Copa do Mundo no Brasil, me foi solicitado escrever sobre o tema da alienação e futebol, após mais de oito meses perdido em meus registros, retomo aqui algumas questões que permanecem após o final do mundial. Será que o futebol realmente acaba? Ou ele é sempre a distração necessária para desviar a atenção da realidade política do país? 


Alienação em Tempos de Copa do Mundo

Em um contexto de Copa do Mundo, Campeonato nacional, regional é comum voltarmos a escutar a famosa frase Romana: “Pão e Circo ao povo”. Essa frase é reconvertida para a realidade atual, como uma estratégia capaz de retirar o foco da política, transferindo toda atenção para o futebol. 
Sendo que a considerada #CopadasCopas aconteceu em solo brasileiro, esta questão é ainda mais latente. Se utilizarmos como exemplo uma votação realizada no Congresso Nacional, tida por alguns, como uma manobra política que objetivou esvaziar a chamada “lista suja” das empresas privadas envolvidas com trabalho escravo (embutida na Chamada: PEC do Trabalho Escravo), poderíamos falar na existência de uma espécie de estratégia que se apresenta como finalidade a “alienação política” brasileira.
           Ao mesmo tempo não podemos simplificar este fenômeno. O  pensamento comum acaba por simplificar o campo político, convertendo as ações em um dualismo ingenuo, ou seja, quando as ações políticas não correspondem as expectativas populares, a culpa recai no povo que “não sabe votar” e nos políticos corruptos que não sabem o que fazem. 
     Já quando estas ações se convertem em conquistas e no atendimento das expectativas populares, os louros são dos políticos e seus partidos, que sabem muito bem converter em votos na próxima eleição. Desta forma, não podemos cair nesta simplificação, já que outros agentes envolvidos neste processo não podem ser esquecidos, como os meios de comunicação de massa por exemplo, ainda mais quando a nossa democracia é ainda um regime extremamente jovem no Brasil.
       A cobertura da grande mídia possui uma importância central no que diz respeito ao poder de pautar o discurso comum. Sendo uma de suas principais responsabilidades informar a população sobre as notícias mais importantes do país e do mundo. Sobre este ponto, diga-se de passagem, não é preciso um estudo sistemático para identificar que em época de Copa do Mundo, a maioria dos jornais eram pautados pelo evento da FIFA e deixavam de fora questões políticas importantes. 

     Assim, como é possível falar que a culpa é do indivíduo ou do conjunto de indivíduos, quando os próprios meios de comunicação levam hegemonicamente as atenções para dentro dos estádios? Seja durante uma copa do mundo, seja na duração dos campeonatos nacionais e estaduais. Precisamos dividir as responsabilidades do que aqui chamamos apresadamente de “alienação política” brasileira. Cabe sempre a pergunta: quem são os responsáveis pelos direcionamentos das consciências, atenções e ações sociais? E mais importante ainda é perguntar: como fazer diferente?
          Não tenho o poder e nem meios para prever o futuro. Mas me pergunto como as pessoas vão reagir com a mudança brusca na pauta dos jornais, que passarão de uma cobertura festiva da Copa para uma cobertura sóbria das eleições e do próximo mandato? Imagino que essa mudança brusca não seja nem um pouco favorável ao fortalecimento de uma cultura democrática no país. Vemos isso hoje com a quantidade de soluções apressadas e ingênuas frente aos ditos escândalos de corrupção pós-eleições.
         


         Parafraseando Millor Fernandes que afirmou que “O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia”, em época de Copa do Mundo, “O futebol é o ópio do povo e a Copa do Mundo da mídia”. Será possível acompanhar o fim da festa e sua ressaca, e já ter que engolir (ao bom estilo Zagallo), uma enxurrada de notícias acumuladas no campo político? Espero que pelo menos o sentimento de “Vai que dá Brasil” permaneça por mais tempo no coração e na mente do brasileiro, mesmo quando a bola deixar de rolar. Precisamos deste sentimento, nas ruas e nas urnas. Pena isso estar a cada dia mais longe desta expectativa. Vivemos agora o momento em que "Nada vai dar no Brasil, estamos vivendo em meio ao ódio e a simplificação". 




Texto enviado originalmente para uma entrevista que deu origem a matéria publicada pelo núcleo de Jornalismo Experimental da Universidade de Passo Fundo (UPF) Disponível em http://www.upf.br/nexjor/copa/?p=513